O mês que passou é o mês em que se discute o tema do suicídio, também conhecido como “Setembro Amarelo”, porém temos percebido, cada vez mais, a necessidade de se discutir esse tema em todos os meses, todas as semanas do ano.
Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, no Brasil houve um aumento de 43% de casos de suicídio na última década, passando de 9.454 (2010) para 13.523 (2019). O mesmo relatório indica um número mais alto de suicídio entre homens, que apresentam um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio do que as mulheres. A diferença entre os sexos se manteve estável neste período.
Em relação aos dados dos adolescentes, observou-se um aumento de 81% no mesmo período, passando de 606 óbitos (2010) para 1.022 óbitos (2019). Aumento que também aconteceu em menores de 14 anos, chegando a 113%. Tais dados são alarmantes e chamam a nossa atenção para urgente e extremamente necessário cuidado em saúde mental de crianças e adolescentes.
O relatório do Ministério da Saúde também trouxe dados sobre as notificações de violências autoprovocadas, em 2019 foram registrados 124.709 casos no país, o que representou um aumento de 39,8% em relação a 2018. A grande maioria dos casos são concentrados em pessoas do sexo feminino: 71,3% do total de registros.
Acerca desse tema, ainda não há grandes comparações em relação a outros anos, mas cabe salientar que, apesar da Lei 13.819/2019 que instituiu a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio e determinou a necessidade da notificação compulsória aos casos de autolesão, muitas pessoas ainda não notificam esse fenômeno, especialmente as instituições escolares que, raramente, tem conhecimento da legislação e da necessidade da notificação. Assim, acredita-se que os números referentes a situações de autolesão sejam ainda maiores, porém, não notificados.
A falta de informação para os órgãos de saúde é prejudicial ao monitoramento das situações e ao desenvolvimento de políticas públicas em relação ao tema. Cabe ressaltar que o objetivo da notificação não é com fins fiscalizatórios, mas de extrema importância para gerar dados para propor políticas públicas a respeito.
É de conhecimento, também, que o isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19 e a dificuldade dos adolescentes em retornar para suas atividades diárias tem gerado um maior grau de sofrimento emocional, o que também acarreta em comportamentos autolesivos.
Além de registros importantes que vem sendo identificados em plataformas e redes sociais, em que movimentos conhecidos como “Gore”, que faz referência a eventos sangrentos, incentivam comportamentos de autolesão em adolescentes mais vulneráveis à entrada em determinados grupos (Lemos, Oliveira, Azevedo, 2023).
Ou seja, a partir disso, cabe ressaltar que os cuidados à crianças e adolescentes e às questões de sofrimento emocional devem ser redobrados, assim como sinais ou falas que indiquem pouco desejo de viver, falta de perspectiva na vida ou dificuldade nas relações familiares e entre pares, sugerindo o sentimento de solidão.
Em adolescentes, alguns fatores que precisam ser observados são os sentimentos de tristeza e desesperança, a depressão, ansiedade, baixa autoestima, experiências adversas pregressas, como abusos físicos e sexuais pelos pais ou outras pessoas próximas, falta de amigos e suporte de parentes, exposição à violência e discriminação no ambiente escolar e o uso de substâncias psicoativas.
Pesquisas já indicam que a geração conhecida como geração Z pode ser mais suscetível ao estresse vivenciado no dia a dia, às cobranças constantes, à dificuldade em lidar com frustrações e necessidade de prazeres imediatos, o que gera maiores taxas de ansiedade, depressão, autolesão e suicídio (BRASIL, 2021).
Isso posto, nos cabe a reflexão de que ações diversas precisam ser desenvolvidas com crianças, adolescentes e seus familiares a fim de fortalecer o cuidado e a promoção de saúde mental entre os jovens, assim como orientações quanto aos acompanhamentos com especialistas da área em casos mais graves.
O cuidado com a saúde mental deve ser preocupação de todos aqueles que atendem e convivem com crianças e adolescentes, visando, inclusive, a possibilidade de formarmos adultos mais fortalecidos do ponto de vista emocional, capazes de reconhecer seus sentimentos e desenvolver estratégias de autorregulação para os problemas da vida cotidiana.
Referências Bibliográficas:
BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico. Volume 52, Nº 33, Set. 2021. Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2021/boletim_epidemiologico_svs_33_final.pdf. Acesso 10 set 2023.
LEMOS, B.; OLIVEIRA, L.; AZEVEDO. T. Conteúdo extremos nas redes sociais: as subcomunidades virtuais no Twiter. Disponível em https://nucleo.jor.br/reportagem/2023-09-15-mec-relatorio-ataques-escolas/. Acesso em 17 de set 2023.